O que você deve saber sobre alimentação e envelhecimento para proporcionar um melhor atendimento aos seus pacientes?
Está cada vez mais claro na literatura que a nutrição exerce um papel fundamental no processo saúde-doença.
Assim como uma nutrição adequada, densa em nutrientes, está positivamente associada a uma boa saúde, um padrão alimentar baseado em alimentos industrializados, ultraprocessados, pobre em fibras alimentares se associa com piores desfechos em saúde. E essa relação é ainda mais importante quando tratamos de qualidade de vida e do processo de envelhecimento saudável.
Então vamos discorrer um pouco sobre isso? Continue a leitura para saber mais!
Alimentação e envelhecimento: buscando a longevidade
Diversos fatores estão envolvidos no complexo processo de envelhecimento, que irão definir se o indivíduo irá ou não desenvolver doenças crônicas associadas com a idade ao final da vida.
Esses determinantes vão desde suscetibilidades genéticas à fatores ambientais, comportamentais e dietéticos, que influenciam o processo saúde-doença e também o modo de envelhecer. Sendo assim, podemos dizer que a longevidade é um processo multidimensional.
Em se tratando de envelhecimento saudável, devemos levar em conta não apenas a longevidade em si, mas principalmente a qualidade dos últimos anos de vida. De nada adianta ter maior expectativa de vida se os últimos anos forem vividos com alta debilidade e incapacitação, piorando a qualidade de vida.
Nesse contexto, várias modificações do estilo de vida contribuem para envelhecer de forma saudável, incluindo práticas alimentares adequadas tanto durante os estágios mais precoces de vida quanto no próprio envelhecimento.
A alimentação saudável e o impacto no envelhecimento e mortalidade
Uma alimentação saudável e adequada possui um impacto importante no risco associado com doenças crônicas associadas ao envelhecimento e mortalidade, e é importante considerar não apenas o papel de nutrientes específicos nesse contexto, mas principalmente de padrões alimentares que promovem uma interação sinergística entre vários componentes dietéticos para potencializar os efeitos à saúde.
Existe um único padrão alimentar capaz de promover um envelhecimento saudável? Infelizmente não podemos chegar a uma conclusão efetiva sobre isso, mas a literatura indica que existem vários padrões alimentares saudáveis ao redor do mundo compartilham características que favorecem o envelhecimento saudável.
Dentre essas características estão o consumo regular de frutas, legumes e verduras, grãos integrais, nozes e sementes, frutos do mar, azeite de oliva, baixo consumo de gordura saturada e baixo consumo de alimentos de baixo valor nutricional, como bebidas açucaradas.
As evidências apontam também para a priorização de uma alimentação baseada em plantas, com consumo reduzido de proteína de origem animal (principalmente carne vermelha), priorizando carboidratos com menor índice glicêmico e dietas com alto teor de fibra alimentar.
Essas recomendações se associam também com a prevenção de diversas condições relacionadas ao envelhecimento, incluindo: fragilidade e risco de quedas, osteoporose, declínio cognitivo, demência, doenças crônicas não transmissíveis como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e vários tipos de câncer, entre outros.
E quando devemos colocar essas mudanças alimentares em prática para envelhecer de forma saudável?
A resposta é: o quanto mais cedo possível! O envelhecimento saudável começa em estágios de vida precoces, gerando efeitos cumulativos de uma alimentação saudável ao longo da vida.
Um exemplo disso é a prevenção de osteoporose ao final da vida, através do alcance de um pico elevado de densidade mineral óssea por volta dos 30 anos de idade – e isso ocorre por meio do consumo recomendado de cálcio durante a infância e em adultos jovens. Porém, ainda que durante a maior parte da vida não se tenha cultivado hábitos alimentares saudáveis, ainda é possível implementar mudanças mesmo no envelhecimento, minimizando impactos negativos.
O que pode interferir na nutrição adequada no envelhecimento?
Por outro lado, precisamos refletir sobre as barreiras que podem interferir em uma nutrição adequada no envelhecimento. Uma das barreiras para a realização de uma alimentação saudável e adequada no envelhecimento está relacionada com as perdas funcionais, gerando um ciclo vicioso.
A sarcopenia, uma debilidade comum no envelhecimento, decorre do prejuízo de função e força pela redução da massa muscular esquelética. Essa condição possui gênese multifatorial, dentre elas uma alimentação inadequada. E a presença de sarcopenia também pode influenciar negativamente a ingestão de nutrientes, uma vez que contribui para a redução dos requerimentos energéticos, podendo ainda limitar a autonomia de comprar e preparar alimentos.
Outras barreiras para a má nutrição no envelhecimento incluem alterações fisiológicas do próprio processo de envelhecimento, como alteração da visão, paladar, mecanismo de sede, alterações na mucosa gástrica e vilosidades intestinais, fatores socioeconômicos, entre outros.
Em suma, é incontestável o papel que um plano alimentar nutricionalmente adequado possui na prevenção de condições crônicas associadas ao envelhecimento, promovendo um envelhecer de forma mais saudável, ocasionando maior qualidade de vida e menor debilidade ao final da vida.
Deve-se considerar o contexto alimentar ao longo de toda a vida, adequando as recomendações à realidade de cada indivíduo para tornar possível a implementação de padrões alimentares saudáveis culturalmente adequados, acessíveis e que promovam saúde.
Referências e recomendações de leitura:
- Dominguez LJ, et al. Healthy aging and dietary patterns. Nutrients. 2022;14(4):889. doi: 10.3390/nu14040889. PMID: 35215539
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- Robinson SM. Improving nutrition to support healthy ageing: what are the opportunities for intervention? Proc Nutr Soc. 2018;77(3):257-264. doi: 10.1017/S0029665117004037. Epub 2017 Nov 27. PMID: 29173227
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