Por que a dieta para gestantes é tão importante?
A gestação é um período de intensas modificações fisiológicas, metabólicas e nutricionais. O estado nutricional da mãe possui grande influência no crescimento e desenvolvimento do bebê em sua vida intra-uterina, e até mesmo após o nascimento.
Nesse sentido, é de suma importância o cuidado nutricional tanto no período pré-concepção quanto durante e após a gestação, garantindo saúde adequada para a mãe a para o bebê, de acordo com as demandas específicas de cada fase.
Continue a leitura deste artigo para saber mais sobre esse assunto!
Dieta para gestantes e a nutrição na gestação
A mulher que está saudável no período da concepção possui maior probabilidade de ter uma gestação saudável. Estudos observacionais mostram forte influência tanto do estado de saúde anterior à gestação e desfechos em saúde do binômio mamãe-bebê, com consequências que podem perdurar até mesmo em novas gerações.
As necessidades nutricionais durante a gestação aumentam de forma expressiva para suprir as crescentes demandas da unidade fetoplacentária. Deficiências nutricionais podem acarretar desfechos negativos na gestação, como parto prematuro, recém-nascido pequeno para a idade gestacional, distúrbios hipertensivos maternos e outros efeitos adversos à saúde ao longo da vida.
Contudo, o excesso de macronutrientes (e consequentemente de calorias diárias) durante a gestação pode ser tão prejudicial quanto sua deficiência, aumentando o risco de aborto, diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, além de favorecer o desenvolvimento de obesidade e diabetes tipo 2 nos filhos na fase adulta.
Por isso, a dieta para gestantes é tão importante. Uma alimentação equilibrada e bem ajustada às necessidades nutricionais de cada gestante são fundamentais para uma gestação saudável.
A nutrição materna segue o mesmo padrão em todo o período gestacional?
Sob a ótica da qualidade da alimentação, deve sim seguir o mesmo padrão: uma alimentação saudável e adequada, cuja base são alimentos in natura e minimamente processados.
Porém, cada trimestre da gestação possui características singulares que implicam em demandas nutricionais diferenciadas. Veja:
- Primeiro trimestre: esse período caracteriza-se por grandes modificações biológicas em decorrência da intensa divisão celular. Nesse momento, a saúde do embrião irá depender principalmente da condição pré-gestacional materna, tanto em relação às suas reservas energéticas quanto ao estado nutricional em vitaminas, minerais e oligoelementos;
- Segundo e terceiro trimestres: nessa fase, existe grande influência do meio externo na condição nutricional do feto, como o ganho de peso adequado, a ingestão de energia e nutrientes, fator emocional e estilo de vida.
Adaptações fisiológicas da gestação promovem alterações no paladar, olfato e preferência por alimentos específicos. As alterações hormonais do primeiro trimestre podem contribuir para aumento no consumo de sal, pela diminuição da sensibilidade à essa substância.
Além disso, sintomas comuns como hiperêmese, náuseas e vômitos são decorrentes da maior capacidade olfativa, e também podem interferir de forma importante na ingestão alimentar da gestante e não estão limitadas ao primeiro trimestre da gravidez.
Quais são as principais recomendações nutricionais na gestação?
No período da gestação, espera-se que haja balanço energético positivo e ganho de peso da gestante, mesmo com estado nutricional prévio de obesidade.
O Ministério da Saúde atualizou a caderneta da gestante com as novas curvas de avaliação do ganho de peso gestacional, cujas recomendações variam de acordo com o estado nutricional anterior à gestação (veja aqui nosso post sobre as novas curvas:
A partir da concepção existe a formação de um novo órgão endócrino, a placenta. A placenta será responsável pela secreção de hormônios que irão interferir no metabolismo de todos os nutrientes, implicando também nas recomendações nutricionais para atender as demandas específicas da gestação.
Em relação ao consumo energético, é necessário um adicional de energia em calorias para atender o crescimento e a manutenção fetal, da placenta e dos tecidos maternos.
Em geral, os órgãos internacionais de referência como a Organização Mundial da Saúde e o Institute of Medicine (IOM) recomendam um adicional progressivo conforme os trimestres de gestação, sendo o maior aporte (em torno de 450 kcal/dia a mais) direcionado ao terceiro trimestre, no qual o feto tem maior ganho de peso.
Em 2023 também houve atualização das recomendações dietéticas de referência (Dietary Reference Intakes – DRIs) para energia, sendo que, para gestantes, a recomendação varia conforme o Índice de Massa Corporal (veja aqui um resumo sobre as novas recomendações).
Na tabela a seguir, estão representados os valores de ingestão diária para macronutrientes recomendados para gestantes, de acordo com o IOM.
Nutrientes | Gestantes |
Carboidratos (g) | 175 |
Fibras (g) | 28 |
Proteínas (g/kg) | 1,1 |
Proteínas (g) | 71 |
Gorduras totais (g) | ND |
Ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 (g) | 1,4 |
Ácidos graxos poli-insaturados ômega-6 (g) | 13 |
As necessidades nutricionais de micronutrientes aumentam de forma mais expressiva do que as de macronutrientes durante a gestação.
Em muitos casos, a suplementação pode ser recomendada desde o início da gravidez. Estudos de metanálise já identificaram que a suplementação pré-natal com multi micronutrientes pode reduzir de forma significativa o baixo peso ao nascer se comparado à suplementação isolada de ferro e ácido fólico.
De uma forma geral, a qualidade da dieta materna ajustada em quantidade para sua necessidade nutricional para fornecer macro e micronutrientes de forma adequada é fundamental para a saúde tanto da mãe quanto para o desenvolvimento do bebê, podendo impactar a vida adulta da prole e também as futuras gerações, como vimos brevemente nesse artigo.
Manter um estilo de vida saudável antes mesmo de engravidar também possui um impacto importante em todo o período gestacional, contribuindo para ótimos desfechos em saúde para a mãe e para o bebê.
Restrições dietéticas e um desbalanço na proporção de macronutrientes não são recomendadas durante a gestação; antes, o plano alimentar deve atender às demandas nutricionais de cada período, além de se valer de estratégias nutricionais que visem auxiliar no manejo de sintomas decorrentes das alterações fisiológicas da gestação, como presença de náuseas, vômitos, alterações no paladar e constipação intestinal.
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Referências e recomendações de leitura:
- DANIELEWICZ, H.; et al. Diet in pregnancy-more than food. Eur J Pediatr, v. 176, n. 12, p. 1573-1579, 2017. doi: 10.1007/s00431-017-3026-5. PMID: 29101450.
- MARQUES, N.; SERPA, F.; TEIXEIRA, M. Nutrição funcional da fertilidade à gestação. São Paulo: Valéria Paschoal Editora Ltda., 2018.
- MARSHALL, N. E. et al. The importance of nutrition in pregnancy and lactation: lifelong consequences. Am J Obstet Gynecol, v. 226, n. 5, p. 607-632, 2022. doi: 10.1016/j.ajog.2021.12.035. PMID: 34968458.
- NOGUEIRA, N. N. et al. Alimentação na gestação e na lactação. In: COMINETTI, C.; COZZOLINO, S. M. F. Bases bioquímicas e fisiológicas da nutrição nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença. 2. ed., rev. e atual. Barueri: Manole, 2020. cap. 36, p. 743-781.
- STEPHENSON, J. et al. Before the beginning: nutrition and lifestyle in the preconception period and its importance for future health. Lancet, v. 391, n. 10132, p. 1830-1841, 2018. doi: 10.1016/S0140-6736(18)30311-8. PMID: 29673873.
- VITOLO, M. R. Nutrição da gestação ao envelhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2015.